Um dos principais “bioplásticos” usados em copos e recipientes descartáveis degrada-se no oceano tão lentamente quanto o material feito à base de petróleo, permanecendo intacto durante mais de um ano.
Um “bioplástico” muito utilizado em recipientes e copos descartáveis que é referido como sendo biodegradável afinal degrada-se tanto ou tão pouco quanto o plástico fabricado à base de petróleo. E, tal como este, deve ser levado para as instalações próprias para que seja devidamente decomposto. Um novo estudo que surge na véspera do início das negociações mediadas pela ONU para um novo Tratado Global para os Plásticos, a decorrer em Paris.
Os bioplásticos compostáveis têm sido apontados como uma solução para os resíduos plásticos, que entram no oceano a um ritmo de 14 milhões de toneladas por ano.
14 milhões de toneladas de plástico por ano acaba no oceano
Mais de 300 milhões de toneladas de plástico são produzidas todos os anos para as mais diversas utilizações.
Pelo menos 14 milhões de toneladas de plástico acabam no oceano todos os anos.
O plástico representa 80% de todos os detritos marinhos encontrados desde as águas superficiais até aos sedimentos do fundo do mar.
As espécies marinhas ingerem plástico ou ficam enredadas nos detritos plásticos, o que lhes causa ferimentos graves e morte.
A poluição plástica ameaça a segurança e a qualidade dos alimentos, a saúde humana, o turismo costeiro e os mares contribui para as alterações climáticas.
Uma das principais alternativas aos plásticos tradicionais à base de petróleo é PLA (poliácido-láctico), um material derivado de plantas usado em roupas, copos descartáveis e recipientes. O PLA pode ser levado para compostagem em instalações industriais, mas os investigadores não tinham certeza se o material se decomporia naturalmente uma vez no oceano.
Para o descobrir, a equipa liderada por Sarah-Jeanne Royer, da Universidade da Califórnia, em San Diego, comparou como envelheciam e se degradavam vários materiais colocados no mar. Para isso colocaram alguns na superfície da água e outros dentro de uma gaiola a 10 metros de profundidade, no cais em La Jolla, Califórnia.
Colocaram amostras do tamanho de uma mão de tecidos feitos de plásticos à base de petróleo, bioplásticos como o PLA e materiais naturais como o algodão. A cada semana, verificavam e fotografavam as amostras e retiravam uma pequena porção de cada uma para uma avaliação visual e química.
Ao fim de 14 meses no mar, a amostra de PLA permaneceu tão intacta quanto os plásticos feitos à base de petróleo, como polipropileno e polietileno tereftalato (PET). Em contraste, materiais naturais como fibras à base de algodão desintegraram-se e decompuseram-se completamente em cerca de um mês, revelam agora num estudo publicado na revista PLOSOne.
Plástico biodegradável pode ser enganador
É por isso que, quando se trata de plásticos compostáveis, as descrições como “biodegradável” podem ser enganadoras. Só porque um bioplástico pode ser colocado numa instalação com alta temperatura e alta pressão, não significa que se decompõe num ambiente frio e húmido.
“Os consumidores em geral não sabem o que estão a comprar”, alerta a cientista que recomenda que se evite comprar plásticos descartáveis e optar por embalagens reutilizáveis e comprar menos roupas.
Novo Tratado Global para os Plásticos
Este estudo é publicado na véspera do início da segunda ronda de negociações para um eventual Tratado Global para os Plásticos, a decorrer em Paris.
Representantes de 173 países concordaram no ano passado em desenvolver um tratado juridicamente vinculativo que cubra o “ciclo de vida completo” dos plásticos, desde a produção até ao final de vida útil, a ser negociado nos próximos dois anos.
Reciclar o plástico pode torná-lo mais tóxico e não deve ser considerada uma solução para o problema da poluição, alerta a Greenpeace.
Investigação revela que o processo de reciclagem liberta microplásticos para o ambiente.
“Reutilizar, reciclar e diversificar”, a tripla solução da ONU para a poluição de plásticos
O mundo deve reduzir para metade os plásticos descartáveis e adotar a máxima “reutilizar, reciclar e diversificar” para travar esta poluição galopante, segundo um relatório das Nações Unidas publicado a 16 de maio.
O documento “Feche a torneira”, foi divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) a duas semanas da 2ª etapa das negociações para o tratado internacional juridicamente vinculativo de até o final de 2024 .